quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cultura livre é liberdade?

Um assunto que é bastante discutido desde sempre é sobre a “cultura livre”. O fato de a internet conseguir proporcionar de graça várias coisas que no mundo offline seriam pagas gera uma das maiores guerras ideológicas dos nossos tempos.
Apesar de a discussão ter argumentos fortes dos dois lados, parece que a web realmente tá indo cada vez mais para o lado da cultura livre.
A maioria de nós já tá tão incluso nesse pensamento que ficou bem fácil e cômodo defender ele. E que atire a primeira tonelada de pixels aqui nos comentários quem nunca baixou uma música “ilegalmente”! O problema é que esse comodismo de pensamento que defende tal cultura tá provocando mudanças tão rápidas que nem paramos pra pensar se isso realmente é o que queremos.
Hoje, a Folha publicou uma entrevista interessante com Robert Levine falando sobre o assunto. O cara trabalhou um bom tempo na Wired e já foi editor da Billboard – que, para quem não sabe, são respectivamente duas das maiores revistas de tecnologia e música do mundo.
Levine está lançando um livro com um título que já traz uma clara polêmica sobre o assunto que estamos falando: “Carona grátis – como a internet está destruindo a cultura dos negócios e como a cultura dos negócios pode revidar”, que foi lançado há dois meses no Reino Unido. Na entrevista, ele argumenta que há alguns fatores “estranhos” por trás de todo esse papo de cultura free. Por exemplo, de acordo com Levine, o Creative Commons teria recebido US$1,5 milhão do Google em 2008 e outros US$ 500 mil em 2009. 




“Muitas dessas empresas da internet não querem pagar pelo conteúdo”, diz ele na entrevista. Só que Jaron Lanier, um outro estudioso, diz que, além de não pagar, alguém ainda vai lucrar com esse conteúdo gratuito.
Lanier é um dos caras que participou da criação da internet, trabalhando principalmente com projetos de realidade virtual. Ele já escreveu alguns livros e artigos contra a cultura livre, como “Gadget – você não é um aplicativo”, em que ele dedica várias páginas ao assunto.
O que ele argumenta é que o trabalho criativo das pessoas não tem sido lucrativo o suficiente pra todos investirem nisso. Você pode até fazer um trabalho muito foda, mas as chances disso viralizar tanto quanto alguém fazendo um vídeo tosco são pequenas.
De qualquer jeito, quem vai ganhar a maior parte do lucro pelo seu trabalho não vai ser você, mas sim os donos do YouTube, do Facebook, do Google, quem ele chama de “senhores das nuvens” e que faturam com publicidade tanto nos vídeos que viralizam e quanto nos que não se espalham.
A crítica até faz sentido, mas também há vários outros pontos a discutir.
Muitos dos argumentos dos defensores da cultura livre, e que também é válida, é que cultura é algo que foi feito para estar ao alcance de todos e não só de uma minoria com poder aquisitivo.
Além disso, enquanto Lanier e Levine criticam os “senhores das nuvens” que ganham dinheiro em cima do trabalho do artista, existem outros vários intermediadores que sempre ganharam dinheiro em cima da arte. Por exemplo, no mundo da música, em que as gravadoras sempre ficaram com a maior parte do lucro.
Isso tudo sem contar que, até certo ponto, a internet é mais “democrática” no sentido de que o trabalho de um pequeno artista tem mais chances de ser divulgado do que se fosse feito de outra maneira. Afinal de contas, quando não pagamos pelo consumo, nós procuramos conhecer mais coisas.
Por exemplo, uma banda, ao distribuir sua música pra galera, pode até não ganhar dinheiro na venda dos discos, mas fica conhecida e lota mais facilmente os shows.
Enfim, existem os dois pontos de vista e ambos merecem ser bem analisados. Se você defende a cultura livre, vale a pena pensar até que ponto você faz isso só pra não parecer hipócrita quando tá baixando milhares de músicas. Se você é contra a cultura livre, reflita se as outras soluções que você consegue ver são muito melhores mesmo.

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